O brasileiro consome música, filmes e até mesmo quadrinhos e séries de TV feitos no Brasil. Disso não há dúvidas. Mas o jogador brasileiro parece ter um preconceito com os games feitos por aqui. Ao menos é o que pensa boa parte dos desenvolvedores do BIG, festival de jogos independentes que acontece nesta semana em São Paulo.
O brasileiro consome música, filmes e até mesmo quadrinhos e séries de TV feitos no Brasil. Disso não há dúvidas. Mas o jogador brasileiro parece ter um preconceito com os games feitos por aqui. Ao menos é o que pensa boa parte dos desenvolvedores do BIG, festival de jogos independentes que acontece nesta semana em São Paulo.
"A maioria dos jogadores brasileiros não joga tanto games feitos aqui", diz Henrique Caprino, produtor de "Ninjin". "Os games brasileiros sofrem um pouco de preconceito e tem menos espaço do que as grandes produções norte-americanas, europeias e de qualquer outro país".
Sandro Manfredini, do premiado "Horizon Chase", conta que o Brasil é o terceiro maior mercado do game de corrida: "Temos uma boa cobertura da imprensa nacional, o que ajuda, mas muitas vezes as pessoas não sabem que 'Horizon Chase' é um game brasileiro".
"Mas quando já se destaca que é um jogo brasileiro, o cara já vem com um certo preconceito", aponta Sandro. "Pra ser brasileiro e bom, tem que ser muito bom. As coisas que vêm de fora já chegam com um status melhor".
Veterano da produção de jogos no Brasil, Tarquinio Teles ("Taikodon") acredita que não existe um preconceito negativo ou positivo com a origem do jogo. "Mas não adianta dizer que o game é brasileiro e esperar que as pessoas vão lhe dar um desconto, vão ser compreensivas por você estar sofrendo para colocar o jogo no mercado. Isso não vai acontecer".
Exceção à regra, "Supper Button Soccer", game mobile da produtora Smyown, já teve cerca de 1 milhão de downloads. "Contamos um pouco com a paixão nacional", explica o produtor Wilson Marcondes. "Além de ser um game de futebol, tem a nostalgia dos jogos de futebol de botão, que resgata essa coisa da infância".
Para o criador de "Ninjin", a aceitação muda conforme o gosto do público. "Quando o jogador curte jogos indie, entende 'pixel art', aí existe uma abertura maior, mas tem muitos que estão acostumados apenas com os 'AAA' (jogos de grande orçamento), como 'Call of Duty', jogos gigantescos. Esses jogadores não entendem o objetivo, onde nosso jogo se encaixa no mercado".
O game designer Daniel Monastero, do jogo de plataforma "Shiny" (que sai em agosto para Xbox One), acredita que o público quer bons jogos. "Que diferença faz para o brasileiro se 'Witcher 3' foi feito na Polônia?", pergunta o desenvolvedor. "Mas é mais fácil fazer sucesso aqui depois que estourar lá fora".
Para os produtores de "Super Button Soccer", é preciso inovar sempre para conquistar o jogador brasileiro. "A mesmice não é atraente, não é o tipo de jogo que nós vamos consumir".
"O brasileiro joga o que há de melhor no mundo, ele espera sempre por games de qualidade internacional. Não é por ser feito aqui que vai ser diferente", completa Tarquinio. "O game vai fazer sucesso pela qualidade, não pela origem".
Big in Brazil?
O designer de "Shiny" aponta também que para o produtor independente, o mercado nacional não é o bastante para garantir o retorno financeiro. "Não adianta ser 'big in Brasil', você tem que ser grande no mundo todo".
Com recursos limitados e de olho no mercado externo, é comum jogos feitos no Brasil saírem totalmente em inglês e sem opção de menus ou legendas em português. O que parece ser um descaso com o público local é, segundo os produtores, uma decisão de desenvolvimento.
"Se você quer lançar seu jogo em vários países, é melhor começar com inglês. Todo o mundo fala ou entende inglês em algum nível", diz Daniel. "Na hora de traduzir para um outro idioma, é mais fácil achar quem passe do inglês para alemão ou chinês, do que alguém que faça a tradução do português para um desses idiomas".
O designer também aponta a falta de profissionais especializados em localização de jogos aqui no Brasil. "A tradução precisa ser feita dentro do arquivo do jogo, não é um documento de Word".
Para os entrevistados, o público brasileiro ainda divide os jogos em grandes produções e games "menores", mas a distribuição digital tem ajudado a derrubar essa divisão.
"Produtos digitais têm barreiras minúsculas de entrada", explica Tarquinio Teles. "O desenvolvedor brasileiro tem que pensar o seu game para vender no mundo inteiro. Você não vai atingir qualidade mundial e querer se pagar no mercado brasileiro".